sábado, abril 29, 2006

EDITORIAL

Diariamente enforcam Tiradentes

No país dos desequilíbrios, um contra-senso a mais não chama muito a atenção, e nem o próprio sistema federativo, grande responsável, se constrange com seus atos ambíguos e contraditórios. A data de 21 de abril é digna de meditação e análise a ser feita por nós, os inconformados com os desmandos e descompassos do modelo arcaico e falido que não deu certo e que as oligarquias políticas e os monopólios econômicos tentam mantê-lo vivo artificialmente.

Tiradentes, o precursor de nossa independência, foi aclamado pela História como o inconfidente brasileiro” e em reconhecimento de seu holocausto e amor à causa libertária, seu nome foi inscrito em bronze no Panteon da Liberdade. Aclamado como patrono de grande número de instituições militares e civis, continua hoje sendo conhecido nacionalmente como o líder da Inconfidência Mineira.
Portugal festejou o enforcamento e esquartejamento e transformou o algoz mentor da repressão, o Conde Resende, em herói. Em Portugal, Tiradentes ficou conhecido como conjurado, traidor e inconfidente. Anos depois, no Brasil já separado e independente, o conde foi homenageado e seu nome foi emprestado a uma das cidades mais importantes: Rezende. Tiradentes continuou a ser conhecido no Brasil como inconfidente, cuja tradução significa traidor!

Até hoje não vimos o sistema resgatar sua memória, apagando da História “oficial”, ministrada nas escolas, esta nódoa, este termo “inconfidente”. Em resumo, ensinam que o herói nacional deve ser conhecido como um infiel, um traidor.

Porém, o maior contra-senso se estabelece quando, um dia por ano, se homenageia a memória libertária de Tiradentes e nos demais dias do ano suprem a liberdade de quem luta pelos mesmos ideais de liberdade e de autodeterminação. O ex-ministro da Justiça (da JUSTIÇA?), Maurício Correia, em maio de 93, ao atacar os movimentos secionistas do Sul, estava enforcando Tiradentes novamente. Fazendo coro com o sistema que representava, pregava a democracia e ambiguamente, reprimia a liberdade de expressão e de pensamento.

A Rede Globo, quando proíbe seus veículos de publicar matéria que questione o centralismo e autoritarismo de Brasília, enforca Tiradentes novamente. Todas as semanas temos mandado matérias e notícias aos seus jornalistas para serem publicadas. Como resposta, somos contemplados com o silêncio ou, quando muito, com as eventuais situações vexatórias que tentam artificialmente criar. A cada um destes atos que tentam contra a liberdade de pensamento e de expressão, estão novamente enforcando Tiradentes.

O Juiz de Direito de Passo Fundo, também enforcou Tiradentes quando se fundamentou na lei esdrúxula, arbitrária e revogada constitucionalmente, que deu sustentação à ditadura e aos regimes militares brasileiros, ao negar o registro da Comissão Estadual do Movimento O Sul é o Meu País do Rio Grande do Sul, anos atrás, apesar de já temos conseguido os registros no Paraná e Santa Catarina.

Dezenas de exemplos da ambigüidade do sistema poderíamos narrar: aprisionam e enforcam as idéias, reverenciam os algozes e fazem homenagem póstuma às suas vitimas.

Recentemente, a Rede Globo mostrou que se Jesus Cristo voltasse e fosse a julgamento nos dias de hoje, seria novamente condenado e crucificado. Depois seria venerado e suas idéias de fraternidade justiça social seriam usadas nos palanques eleitoreiros do sistema, tal qual fizeram com Tiradentes há mais de 200 anos e continuam a fazer hoje com seus ideais de autodeterminação e de liberdade, agora assimilados e encarnados pelos sulistas, já preparados e ansiosos pela data da senha: “TAL DIA A SEPARAÇÃO”.

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