AUTODETERMINAÇÃO DO NORDESTE:

RENOMADO ENGENHEIRO PROPÕE A SEPARAÇÃO DO NORDESTE
Jacques Ribemboim é economista, com mestrado pela University College London e doutorado em economia pela UFPE. É fundador do Grupo de Estudos sobre o Nordeste Independente (GESNI). Agora, lança o livro "Nordeste independente" que propõe que o Nordeste rompa o neocolonialismo interno do qual é vítima. Para ele, as políticas econômicas adotadas visam a proteger as empresas do Sudeste e prejudicar o consumo dos nordestinos.
Nordeste Independente. O título não deixa dúvida: o autor do livro propõe o separatismo, a independência política desta região do Brasil. A proposta vem de um engenheiro recifense, 42 anos, que hoje atua como professor em universidades pernambucanas e como consultor na área de Economia Ambiental, mas que conta com vasta experiência como engenheiro e economista.
Ricardo Ribemboim está convicto de que a melhor solução para os problemas que atingem o Nordeste seriam resolvidos tornado-o um país. "O modelo de crescimento brasileiro baseou-se na exploração de uma periferia depauperada em seus recursos naturais e humanos e dependente de um centro rico e avançado industrialmente", afirma o engenheiro, na Tese do Separatismo do Nordeste, que abre o primeiro capítulo do livro.
Os argumentos de defesa de Jacques Ribemboim estão baseados na contestação ao que o autor chama de neocolonialismo interno. Ele lembra, também, não ser o primeiro a se sublevar contra a realidade de desigualdade entre o Brasil rico do Sul-Sudeste e pobre do Norte-Nordeste. "Ainda na primeira metade do Século XVII, poderia ter sido materializada (a independência), como resultado do nativismo pernambucano na guerra de expulsão dos holandeses", afirma e prossegue, em parágrafo na página 10, "quase duzentos anos depois, dar-se-ia, justamente em Pernambuco, a eclosão da Confederação do Equador, liderada por Frei Caneca, uma das mais notáveis tentativas de independência e insubordinação aos interesses extra-regionais".
A ambição em ver concretizada a separação geopolítica é alimentada por Ribemboim a ponto de ele ter dedicado um capítulo inteiro ao seu lado prático, A Transição para a Independência, que traz itens como Aspectos Legais e A Divisão do Patrimônio Comum. Mesmo que lhe pareça remota e improvável a proposta separatista ou discorde dos encaminhamentos dados ao assunto pelo autor, o leitor será levado a concluir que Nordeste Independente traz argumentação válida, capaz de lhe incutir a pergunta: E se tentássemos a independência?
O sonho de um Nordeste independente
Por Kauê Diniz
Separar o Nordeste do resto do país. Essa idéia pode parecer para muitas pessoas uma brincadeira, utopia e até mesmo loucura. Mas, para o doutor em Economia, Jacques Ribemboim, o pensamento pode se tornar realidade, tanto que ele expôs suas convicções no livro “Nordeste Independente”, lançado em maio de 2002, pela editora Bagaço.
Ribemboim lista 33 argumentos para defender a sua tese. Entre os mais fortes está a questão da espécie de modelo “neocolonial interno”, no qual uma região-periférica, no caso o Nordeste, está constantemente suprindo de mão-de-obra e matéria-prima uma região-centro, a Sudeste, ao mesmo tempo em que dela importa, de forma compulsória, bens e serviços a custos altos. “Não há um projeto nacional que envolva o desenvolvimento igualitário de todas as regiões. A única maneira de romper com esse ciclo pernicioso de concentração social e regional de renda seria a independência”, afirma Ribemboim.
Essa idéia de separar o Nordeste do resto do país não é novidade. Pelo contrário, durante os mais de 500 anos de história do Brasil vários movimentos tentaram tornar independente, senão todo o Nordeste, pelo menos parte dele.
Talvez o mais importante movimento separatista tenha sido a Confederação do Equador em 1924, liderado por nomes como Frei Caneca e Cipriano Barata. Na época, pelos mesmos motivos atuais de situação de penúria do povo nordestino e a tirania do imperador D. Pedro I, criou-se uma Divisão Constitucional, formada por Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. A nova república durou cerca de dois meses.
Segundo Ribemboim, o maior problema para viabilizar a separação seria a divisão do patrimônio físico e cultural, órgãos públicos, sistema viário e dívidas internas. Além disso, pela Constituição Brasileira, a unidade territorial do país é indissolúvel. Apesar da idéia de independência ser inusitada, ninguém imaginava há dez anos que a antiga União Soviética se desmembraria em 15 países, argumenta o economista.
Aqui, no Nordeste, o mapa do novo país poderia ser o atual da região. Mas, talvez, para o Maranhão e a Bahia, fosse melhor outro tipo de separação, tornando-se, eles próprios, independentes. Nesse caso, haveria um redimensionamento territorial com a criação de doze províncias. Do Piauí, surgiriam Teresina, Picos e Gurguéia. O Ceará se desmembraria em Fortaleza e outra capital no sertão do Cariri. Os estados de Alagoas, Rio Grande do Norte, Paraíba e Sergipe se tornariam províncias, enquanto Pernambuco daria origem a Recife, Petrolina e Fernando de Noronha.
“O nome do novo país poderia continuar simplesmente Nordeste, ou variantes como República do Nordeste, Estados Unidos do Nordeste etc”, explica Ribemboim. Mas também há possibilidade de denominações aludindo representantes da fauna regional ou algum herói do passado, como República do Mandacaru, País do Frei Caneca, Zumbi. Pindorama, entre outros.
Natal, Mossoró, Campina Grande ou João Pessoa seriam excelentes candidatas à capital da nova nação. O motivo da escolha dessas cidades para abrigar a sede do governo nordestino é que o percurso por terra, para quase todas as outras localidades da região, seria feito em torno de treze horas.
A escolha dos símbolos nacionais seria por plebiscito. Bandeira e brasão fariam alusão à solidariedade, tolerância, paz e justiça. Para o hino, nada melhor como “Luar do Sertão”, de Catulo da Paixão, ou “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga, para representar em forma de canção o povo nordestino.

MÚSICA:
Nordeste Independente
Elba Ramalho
Composição: Bráulio Tavares/Ivanildo Vilanova
Já que existe no sul esse conceito
Que o nordeste é ruim, seco e ingrato
Já que existe a separação de fato
É preciso torná-la de direito
Quando um dia qualquer isso for feito
Todos dois vão lucrar imensamente
Começando uma vida diferente
De que a gente até hoje tem vivido
Imagine o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Dividido a partir de Salvador
O nordeste seria outro país
Vigoroso, leal, rico e feliz
Sem dever a ninguém no exterior
Jangadeiro seria senador
O cassado de roça era suplente
Cantador de viola o presidente
E o vaqueiro era o líder do partido
Imagine o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Em Recife o distrito industrial
O idioma ia ser nordestinense
A bandeira de renda cearense
“Asa Branca” era o hino nacional
O folheto era o símbolo oficial
A moeda, o tostão de antigamente
Conselheiro seria o inconfidente
Lampião, o herói inesquecido
Imagine o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
O Brasil ia te de importar
Do nordeste algodão, cana, caju
Carnaúba, laranja, babaçu
Abacaxi e o sal de cozinhar
O arroz, o agave do luar
A cebola, o petróleo, o aguardente
O nordeste é auto-suficiente
O seu lucro seria garantido
Imagine o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Povo do meu Brasil
Políticos brasileiros
Não pensem que vocês nos enganam
Porque nosso povo não é besta